“Água é benção”: povo Caprichoso enfrenta enchente para brincar de boi
O lado azul de Parintins é o mais atingido pelo fenômeno natural da subida das águas
Torcedores e brincantes do Boi-Bumbá Caprichoso estão preparados para enfrentar as consequências do avanço das águas, decorrente de mais uma grande enchente do Rio Amazonas, que está próxima de quebrar o recorde estabelecido em 2021. Os azulados estão acostumados a conviver com naturalidade ao fenômeno ocorrido com maior frequência nas áreas rebaixadas e propensas às alagações como bairros Francesa, onde existe a popular Feira do Bagaço, local de referência do presidente Jender Lobato e do vice-presidente Karú Carvalho.
Apaixonada pelo Boi de Rua e fã de Arlindo Júnior, Socorro Costa, 61 anos, reside há 19 anos à margem da Lagoa da Francesa e não perde um evento do Caprichoso, seja por dentro d’água ou de canoa, com enchente, chuva ou sem chuva. “A água é benção. Aqui é um lugar muito bom e eu posso dizer que é um paraíso. Eu me esbaldo nas toadas antológicas. Sou torcedora fanática, respeito o adversário e não admito que falem do meu boi. A trajetória da minha família é muito grande, porque meus filhos passaram pela Escolinha de Artes”, declara.
A torcedora Jucimarina Oliveira, 56 anos, também tem mudança de rotina há cerca de 30 anos e passa de cabeça erguida os efeitos da enchente no Beco Submarino, atrás do Curral do Boi Caprichoso. “Tem ano que não alaga tanto, mas, nesses últimos anos, tem sido de admirar mesmo e prejudica o assoalho de casa que inunda. A gente sente um pouco de dificuldade. Perdemos as coisas e às vezes ficamos até isolados. A enchente traz alguns perigos e dependemos de pontes para nossa locomoção. A gente fica observando daqui, escutando o som do curral, e com aquela vontade imensa”, confessa.
A estudante Verônica Matos, 22 anos, enfrenta um desafio na enchente no deslocamento sobre pontes no Beco Submarino para frequentar o Zeca Xibelão e ouve os ensaios do Boi Caprichoso de dentro de casa, junto com a família, quando não tem condições de sair da residência. “A gente fica dançando aqui mesmo e fazemos a nossa festa. Todos somos Caprichoso e fica muito mais fácil a gente brincar em casa. Quando o Caprichoso veio aqui no Beco Submarino foi muita alegria e uma cena linda o boi na frente das casas no Dia das Mães em 2021. Isso é incentivador e nos motiva mais a ser torcedor”, afirma.
Campanha mães d’água”
O Boi-Bumbá Caprichoso prepara o segundo ano da campanha “Mães D’água” que leva alimentos e mantimentos para as mães que moram nessas áreas alagadas de Parintins. No lado azul da Ilha quem sofre com a subida do nível dos rios é o Povo Caprichoso.
Fotos: Pedro Coelho
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