Pequena pajerana do Caprichoso quebra paradigma e emociona público na Tarde Alegre Infantil
As meninas em Parintins crescem com o sonho de ser item feminino do Boi Caprichoso. Mas, não a pequena Iandara Mourão, 08 anos, que deseja ser a primeira pajerana do Festival Folclórico de Parintins. A cunhantã participa do concurso de itens mirins da Tarde Alegre Infantil do Boi Caprichoso e surpreendeu a todos quando se inscreveu na categoria “pajé”, um item predominantemente masculino. A novidade também surpreendeu o pajé oficial azul Erick Beltrão.
Iandara é pajerana substituta no Boi Estrelinha, que participa do segundo grupo do Festival de Parintins. Ela fez algumas apresentações como o item 12, mas encara pela primeira vez um momento definitivo de avaliação de sua performance. Antes da apresentação no palco do curral Zeca Xibelão, Iandara se mostrava bastante nervosa e ansiosa. “Eu gosto de ser pajé, meu sonho é ser pajé. Eu danço de pajé no boi Estrelinha, eu já dancei do festival (boi mirim Estrelinha) e também estou muito nervosa, porque eu vou dançar aqui. Eu fico nervosa na arena também”, disse Iandara. Porém, a menina esqueceu essas sensações quando começou a dançar e arrancar aplausos da torcida.
Iandara começou a frequentar os ensaios do Estrelinha para acompanhar a irmã Ana Cláudia Mourão, que é porta-estandarte do bumbá mirim. Ela começou a dançar nas tribos e chamou atenção da diretoria por se destacar durante a dança. A menina foi convidada a dançar de pajerana numa escola, substituindo o pajé oficial que na época não estava na cidade. Sua apresentação encantou a todos, sendo chamada a ocupar o cargo de pajé substituto do bumbá.
“Ela nos surpreendeu ao dançar como pajé da forma como ela dançou. Eu vejo como uma oportunidade única pra um item feminino se destacar como pajé, pajerana, cacica. Esse item sempre foi dominado pela figura masculina. Mas, a gente tem conhecimento e buscando estudos, que em algumas aldeias não é apenas o item o masculino que determina, que dá conselhos. A gente tem a figura feminina que também exerce esse papel e muito bem. Trazendo para o nosso folclore, é uma novidade e a gente fica muito feliz em ter apoiado a Iandara como pajerana”, conta o presidente o Estrelinha, Renner Ramos.
A família também é peça fundamental na construção e realização desse sonho. A mãe de Iandara, Jéssica Barbosa, conta que ficou surpresa quando soube que a filha queria dançar de pajé, uma vez que nunca tinha demonstrado interesse na festa e até tinha medo do boi (pano). A genitora conta que ficou emocionada quanto viu a filha se apresentar no festival e encantar o público. “Nós vemos como uma inovação no Festival uma pajerana e nós, como família, vamos dar todo o apoio necessário para o sonho dela”, revela a mãe.
“Sei que não é comum uma mulher ser pajé, mas me sinto feliz só de ver a felicidade dela quando está se apresentando num palco. Ela ficou surpresa quando o pajé do Caprichoso, Erick Beltrão, dançou com ela na Tarde Alegre, onde vai disputar o item. Vamos dar nosso apoio sempre”, ressalta a mãe da pajerana.
Quebrando paradigmas
Iandara fez uma apresentação no curral Zeca Xibelão, durante a Tarde Alegre Infantil. No meio da dança ela foi surpreendida com aparição do pajé Erick Beltrão, que dançou com a menina, arrancando aplausos do público presente. Iandara confessou ser fã de Erick, acompanha as apresentações que ele faz e se inspira nele para fazer sua performance. “Eu admiro o Erick e gosto dele”, disse emocionada a cunhantã que está inovando no item 12 do Festival de Parintins.
Para Erick, Iandara é uma grata surpresa. Ele elogiou a apresentação da menina e parabenizou a Tarde Alegre por oportunizar que talentos como de Iandara possam florescer no Caprichoso. “Para mim é de suma importância, eu que fui criado aqui nesse curral desde pequeno. Sempre frequentei a Tarde Alegre e hoje está aqui me apresentando e vendo essas crianças aqui me emociona muito. Eu me via dançando, eu me via brincando nesse palco e ver eles aqui, o nosso futuro, para mim é muito gratificante”, conta emocionado o pajé azul e branco.
Sobre uma menina se aventurar a um item tipicamente masculino, Erick revela que o Caprichoso sempre foi um boi de novidades, oportunidades e valorização do seu povo. “Caprichoso sempre quebrando paradigmas. Nós temos aí uma pajerana e só lembrando que existem várias no Brasil, e dizer que não é só um item masculino e sim um item pra quem quiser. Se você se sentiu à vontade, fique bem e participe. É uma emoção sem igual, sem descrição. AIandara, que dança maravilhosamente bem, tem um futuro promissor aqui no Caprichoso”, elogiou o pajé campeão do festival.
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